domingo, julho 17, 2005

Porque é que morremos?

Por lei natural, falando aqui como naturalistas e não como theologos, a morte é a condição geral da vida, e até diriamos que principia com esta; de modo que, ainda que os homens apprendam a evitar as doenças, e a morte por velhice seja tão vulgar como é rara actualmente, ainda subsistirá o grande facto da morte; e, embora esta chegue a ser uma cousa muito differente da morte dos nossos dias, cujo mais terrivel distinctivo é ser excessivamente prematura, quasi sempre ficará por resolver o mesmo problema que tem preoccupado todas as pessoas estudiosas em todas as epochas. Se estudarmos, attentamente, não só a vida do homem, mas também toda a vida da terra, talvez possamos começar a entrever uma resposta satisfactoria.
Por outro lado, parece que a morte é como que uma condição neccesaria para que a vida se reproduza; é facil ver que toda a morte é principio de nova vida sobre a terra; que nada, na realidade, se consome ou se perde; e se não fossem a morte e os nascimentos, a vida nunca poderia desenvolver-se nos mais humildes animaes e plantas, desde os seus mais baixos principios até ao que é actualmente. Nas nossas proprias vidas podemos observar que existem grandes compensações para a morte. Se não existisse a morte não haveria nascimentos, porque não haveria logar para as creanças, e um mundo sem creanças talvez não fosse digno de que vivessemos nelle.
A questão primacial para todos os seres vivos é, indubitavelmente, a alimentação. O ar é egualmente necessario, mas pode obter-se sempre em toda a parte; o sustento, porém, não abunda da mesma maneira. A causa mais vulgar da morte entre os seres inferiores, quer sejam plantas ou animaes, é a fome, a qual affecta especialmente os novos rebentos d'esses seres, cuja maioria morre de inanição.
(Thesouro da Juventude, Vol. VII, pág. 2239 - O Livro dos "Porquês")